O café na gravidez pode ? Apesar do café ser uma das bebidas mais comuns no cardápio diário dos brasileiros, há uma associação direta do “elevado” consumo de café com perdas gestacionais entre a 8ª e 19ª semana gestacional.
Um dos aspectos que enfatizo com minhas pacientes e alunas dos cursos é que há a necessidade de aproveitarmos cada oportunidade para nutrir nosso bebê e nosso corpo. O café por si próprio não traz nenhum benefício em relação a sua composição de vitaminas e minerais e isso diminui (drasticamente) a motivação de inseri-lo na dieta de uma gestante.
Lembrando do conceito de Programação Metabólica, um período único no processo do desenvolvimento humano que vai da gestação aos dois anos de vida da criança, momento em que precisamos garantir um ambiente o mais próximo da idealidade possível e assim, silenciar genes não desejáveis conduzindo esse bebê em desenvolvimento à uma vida adulta saudável. Nesse contexto, o consumo de café pode ser prejudicial ao desenvolvimento dessa criança.
O grande problema em relação ao consumo de café está no componente cafeína característico da bebida. Os artigos científicos mostram que há segurança de consumo em no máximo 150mg de cafeína ao dia e, pasmem vocês, isso é representado por apenas 2 xícaras de café coado ao dia. A concentração de cafeína em café expresso é ainda maior e merece também nossa atenção. Mas as preocupações com o consumo de cafeína não param por aí, já que a cafeína não é um componente presente apenas no café. Temos também uma concentração importante dela em refrigerantes a base de cola, em chás termogênicos e até mesmo em chocolate (conforme tabela abaixo).
Importante salientar que o teor de cafeína de cafés e chás pode ser influenciado pelo tempo de torra do grão, método de preparo, da variedade da planta e até do tamanho do grão.
O consumo de alimentos com cafeína na gestação pode prejudicar não apenas a evolução da gestação, podendo levar à perda gestacional (como já dito no início deste artigo) mas também o ganho de peso do bebê, fazendo com que o peso ao nascer não seja adequado (baixo peso ao nascer) já que potencializa a lipólise. E outros quatro fatores são importantes:
1. O consumo de cafeína pode conduzir à prematuridade;
2. Os efeitos da cafeína no feto são potencializados já que a criança, ainda em desenvolvimento, não apresenta a mesma capacidade de metabolizar a substância.
3. Possibilidade de elevar a pressão arterial nas gestantes podendo contribuir para o surgimento de eclampsia e trazer um grave risco para a vida da mãe e do bebê.
4. Cafeína tem poder diurético o que também não é nada interessante para gestantes que naturalmente precisam ir muitas vezes ao banheiro e que, uma vez potencializada essa necessidade de fazer xixi pode levar à desidratação que também pode trazer complicações para a quantidade de líquido amniótico disponível.
Cabe a mim ainda fazer um parênteses aqui sobre o consumo de café associado ao consumo de açúcar. Com minha prática clínica, posso afirmar categoricamente que a maioria das pacientes, alunas, seguidoras ainda consomem café com açúcar e, nessa situação, temos mais um item que é prejudicial para uma gestação saudável, já que o consumo de açúcar interfere não apenas na absorção de outros nutrientes mas também, e principalmente, na microbiota do consumidor.
Para melhorar a disposição sem a necessidade de beber café, a minha sugestão é que você tenha a certeza que está com os nutrientes importantes para a síntese energética em dia. Isso pode ser feito não apenas através de exames laboratoriais, mas também através de uma consulta individualizada com um profissional especializado. O consumo de vegetais, tubérculos e frutas são boas fontes de carboidrato que ajuda na sensação de disposição durante a gestação.
Lembre-se sempre… a alimentação durante o período da programação metabólica é muito mais que comer e matar a fome. É garantir um futuro saudável para seu filho! Faça escolhas conscientes. Faça escolhas saudáveis.
Seja Saudável. Seja Feliz
Mil bjos
Maria Angélica Guerra da Cruz
REFERÊNCIAS:
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